terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

34 dias após o início da infecção

Vi meu chefe arrancar os cabelos, literalmente. E ele não era o único.
Há pouco mais de quinze dias fomos trancados no laboratório de pesquisas onde trabalhamos. Dormíamos no segundo andar, onde não haviam experiências bizarras sendo feitas. Ajeitávamos como podíamos nas camas de campanha que o exército enfiou em cada canto do lugar. Dispensaram os bolsistas e todos que não eram funcionários com carteira assinada. Mantiveram os pesquisadores, auxiliares de pesquisa e estagiários. Alguns alunos quiseram ficar. Mas no geral, ninguém quis. Nem os que ficaram.
Havia roupas limitadas. O exército entregou um pacote de roupas – macacões, no geral – para cada um, e a lavagem dessas roupas era feita uma vez por semana. A alimentação deixou de ser feita no refeitório. Lá estava o estoque da comida horrível e insossa de exército. Agora eles levavam diariamente um número contado de latas até o laboratório, onde colocamos água da torneira. No fundo da lata há um produto químico que com a água, esquenta, só pra reidratar a comida liofilizada. Os alojamentos que havia no campus do laboratório foram usados como celas para coisas indizíveis e inomináveis. Do lado extremo do prédio, mais próximo do alojamento, dava pra ouvir os urros horrendos que vinham de lá. Ninguém queria ir pra lá. Havia um tipo de barreira invisível, a qual as camas de campanha espalhadas pelo andar de cima não ultrapassavam, uma vez que os sons do prédio ao lado tornavam o sono – e a sanidade – impossível.
No começo dava pra ligar pros familiares. Explicar por que estávamos presos ali. Depois a comunicação tornou-se impossível. As linhas foram cortadas, e nenhum “fardado” dizia o motivo. Quando a bateria do último celular cessou e o último carregador foi confiscado, nós ficamos isolados do mundo.
Na verdade, nós havíamos dito aos familiares que tudo ficaria bem, que era só até descobrirmos o que estava acontecendo, que logo seríamos liberados. A grande questão é que não sabíamos por que resolveram nos fechar ali. Desde o início, quando o exército chegou, achei que iam nos levar pra casa. Mas o que fizeram foi descarregar caixas enormes. Umas trinta delas. Entraram nos alojamentos, arrancaram portas, substituíram por barras, e colocaram aquelas coisas lá. Depois nos proibiram de sair. Disseram que havia sido decretada Lei Marcial naquela tarde e que era nosso dever cívico descobrir como aquela praga funcionava. Prometeram nos libertar assim que fosse descoberto qualquer avanço.
E passaram-se quinze dias.
O andar de baixo, o de pesquisas, fora completamente reformulado. No Laboratório de Nível 2 foram implantadas sistemas de barreiras para Biossegurança de nível 4. O único do país, creio eu. Lá ficavam as amostras potencialmente perigosas, mas ninguém sabia como se dava a transmissão e ninguém queria ser a cobaia de testar.
Aliás, cobaias. As trezentas que tínhamos, a maioria já sendo testada para outras coisas antes do aprisionamento, morreram na primeira semana, sob qualquer tipo de exposição à doença.
Nos primeiros dias, algumas pessoas surtaram, achando que era um absurdo nos expor assim, tão próximos àquilo. Mas até agora ninguém foi contaminado.
Fui designado à área de testes em células humanas. Até agora não dá pra dizer que há qualquer tipo de avanço.
O primeiro passo foi extrair sangue de uma das amostras trazidas pelo exército e presas no alojamento. Não sei como conseguiram, mas trouxeram vários frascos de um sangue escuro e com o dobro da viscosidade aparente do sangue humano. Olharam isso no microscópio.
Todos os resultados que eram obtidos eram escritos num grande quadro branco. Essa primeira análise não foi diferente. Estava claro ali. Não havia células humanas. Nenhuma. Só um monte de bactérias meramente semelhantes a glóbulos vermelhos, produzindo uma infinidade de substâncias que sabe-se lá  o que são.
O sangue foi centrifugado e as bactérias foram isoladas. Parte disso foi inoculado em algumas das cobaias, que morreram todas. Outra parte sofreu extração de seu DNA, mas os resultados de eletroforese indicaram que o DNA é absurdamente grande para uma bactéria. Mandaram isso pra sequenciamento de DNA, mas os resultados ainda não chegaram. Ao que parece, a sequencia pode ser maior que a humana, o que torna quase impossível o sequenciamento rápido e preciso com o equipamento que dispomos aqui. E uma outra pequena parte das bactérias isoladas foram trazidas até meu grupo de pesquisa pra inocular nas células embrionárias que já tínhamos.
Basicamente, quando inoculadas, as bactérias destroem completamente todas as células que encontram pela frente, e passam a produzir seus próprios metabólitos.
Ainda estamos tentando sequenciar o DNA absurdo dessa coisa. Também estamos tentando manter a sanidade, vendo a capacidade de transmissão e destruição que isso tem, sem contato com o mundo exterior e presos ao lado de um enorme zoológico de horrores que se tornou o alojamento.
Há seis dias não sei o que se passa lá fora.
- primeiro relato

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Um dia

eu sonhei trabalhar num jaleco, descobrindo coisas que ninguém tinha descoberto.
Também sonhei entrar numa faculdade pública
Sonhei, antes de tudo isso, ser escritora.

Nunca pensei que conseguiria tudo isso antes dos 20 anos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vamos falar de pessoas problemáticas (pra mim)

- Pessoas que têm medo de mim. De falar alguma coisa por medo da minha reação. Pessoas que querem perguntar algo e não perguntam, e ficam criando hipóteses na cabeça, considerando sempre a errada como certa.


- Pessoas peso morto. Daquelas que não percebem quando PQP JÁ DEU, SAI DAQUI.

- Pessoas depressivas. Nada me incomoda mais do que reflexões profundas sobre seu âmago, sua alma, seu eu mais profundo, suas dores, seu passado triste, rimas de mórbido com sórdido, cabeça fechada ao sofrimento e apatia. Seu sofrimento não é maior do que o de ninguém. Seu esforço, no entanto, pode ser, se você abrir mão desses sentimentos de desistência =D
- Muito importante! Pessoa que se corta, não se mata. Pessoa que diz que quer se matar, não se mata. Pessoas se matam e ninguém sabe por que. Sempre todos ficam perguntando-se "o que aconteceu com fulano, ele parecia tão bem!". Porque se você sabe que alguém quer se matar, é porque essa pessoa quis que você soubesse. Se ela quis é porque queria que alguém a ajudasse. Suicidas não tentam procurar ajuda, na maior parte das vezes. E pra mim pseudo-suicida só quer atenção. Atenção que eu não tenho a menor vontade de dar.
- Se eu não te respondo, pare de falar. POR FAVOR. =)
- Ninguém é melhor que ninguém e nunca é tarde pra se esforçar. Sentimentos de desistência nunca são justificados o suficiente pra me convencer.
- Sua família não é pior do que a de ninguém. Problemas sérios todos têm, diferentes uns dos outros. Você pode ter um problema com a mãe, eu posso ter com um pai, não significa que seu sofrimento é maior porque você não conhece os meus problemas.
- Aquela pessoa que você sente até raiva de tão feliz, é a que mais sofre (não me refiro a mim, no entanto. É só pra depressivo parar de gritar por aí que é triste achando que só você é triste)
- ATEUS QUE POSTAM CRÍTICAS GRATUITAS A RELIGIOSOS, morram =)
- Meus problemas não são facilmente resolvidos. Não me julgue pelas minhas derrotas, elas não foram por falta de esforço ou tentativas, mesmo que pra você algo seja fácil, pra mim pode não ser. E pode apostar que ainda não desisti dessas lutas, mas cada coisa tem seu tempo e EU decido o meu. Não force.
- Se eu não pedir ajuda, não ajude.
- Se você postar coisas dignas de pena, as pessoas vão sentir pena. E isso é o pior sentimento que podem ter por você.
- Agir como se tivesse o rei na barriga também dá pena, porque todos sabem que você não tem e que isso é um sentimento desesperado de auto-afirmação.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ser escritora é difícil

Mas pensa num negócio difícil, frustrante e ilusório. E mesmo assim a melhor coisa do mundo.

A coisa é o seguinte.
Eu escrevi um livro. Inicialmente se chamava Simple Math, mas por questão de aportuguesamento "fail", acabei chamando de "Platônico". Mandei registrar e tudo mais, como manda o figurino.

Eis que eu decido mandar pra algumas editoras, só as que aceitam o trabalho por email mesmo, sem mandar pelo correio, porque fica MUITO caro. E quero ressaltar esse fato, pois é de extrema importância: não mandei pelo correio POR FALTA DE DINHEIRO.

Uma das editoras que mandei, a Novo Século, na verdade pede um formulário com o resumo da obra. Se eles gostarem, mandam um email pedindo o livro todo.

A grande questão é: quem raios espera uma resposta de editora GRANDE em 3 dias?
Eu esperava a primeira resposta em 4 meses, no mínimo, vindo de uma editora qualquer sem nome, cordialmente negando o livro "pois não estamos optando por este tipo de publicação no momento" (lê-se APRENDE A ESCREVER, BEIJOS).

Enfim, a Novo Século mandou um email 3 dias depois de eu mandar o formulário, dizendo que o formulário havia sido aceito e pedindo que eu enviasse a obra completa para análise.
Daí sim, pensei eu, 4 meses esperando e aposto que nem resposta vou ter.

2 FUCKING DIAS DEPOIS a editora manda um novo email dizendo que o livro FOI ACEITO PARA PUBLICAÇÃO.

Lindo, maravilhoso, nirvana total, certo?

Mais ou menos.

Apesar de ser uma editora grande (e a tiragem inicial para novos autores relativamente alta deriva disso), a Novo Século precisa se garantir que não está investindo num grande fracasso, e não tem como prevenir isso. Com uma tiragem inicial de 1500 exemplares, é regra que o autor compre 500 desses exemplares para vender por conta própria. É uma forma de, mesmo que não venda nada, pelo menos ela não arcou com isso sozinha.

Qual é o preço desses 500 exemplares?
Digamos que se eu tivesse esse dinheiro, não estaria andando de ônibus ou a pé.

E isso não é o fim!!

Eis que hoje abro meu email e vejo que outra editora aceitou meu formulário. Dessa vez uma editora pequena, sem grandes publicações, mas que eu não teria que pagar nada pela primeira tiragem (!!!) de uns 300 livros.

E agora, José?

Reunião com o editor marcada para terça-feira.

E o vestibular?
Nossa, estou BENZI preocupada com isso =P