domingo, 15 de abril de 2012

Sophia pra quem não conhece

Tem uns riscos na imagem que foram feitos pelo blogspot maldito na hora de dar upload.
O meu erro está na última frase, que saiu cortada, portanto o texto está logo abaixo.
Não fui eu quem desenhou. Na verdade é uma foto com efeitos. Afinal tá todo mundo vendo muito bem que essa é a Zoey Daschanel (e sei lá como escreve esse nome)
Clique na imagem pra aumentar, obrigada.

texto:

Quem era Sophia?
Quem era a garota, a mulher por detrás daquela imensidão verde que eram seus olhos? A garota que gritaria aos sete ventos todos os infindáveis sentimentos presos e enclausurados em seu coração de menina. Sentimentos tão fortes que uma vez libertos jamais seriam silenciados. Ou talvez, fossem apenas gritos de mentiras, de esperteza, de uma vil mulher a se esconder na pele de uma singela garotinha, uma brincadeira de enganar e fazer o abusador se sentir a vítima?
Ou ainda, e ele começara a considerar cada vez mais essa hipótese, ele fosse mesmo o dito lobo, a devorar lentamente a garotinha que, apaixonada por seu abusador, simplesmente se deixava ser morta aos poucos, quase imperceptivelmente.
Henrique, no final, não sabia absolutamente nada da garota pra quem deu aula por vários anos. Não sabia se todo o amor que ela dizia ter era real ou apenas uma brincadeira. Não sabia se ela era inteiramente dedicada a ele como se mostrava ou se seu corpo era, na verdade, de Lucas. Não sabia se os hematomas eram um sinal de sua sanidade lhe abandonando, sendo ele mesmo o agressor, ou se Lucas não tolerara perder a mais especial das garotas. Ou mesmo, se algum familiar de Sophia a estava espancando por um motivo que ele não era nem capaz de imaginar.
O que ele sabia, e para isso não havia remédio ou desculpas, era que Sophia era menor de idade, e todas essas indagações faziam parte de uma obsessão. Um crime que poderia leva-lo para a cadeia num piscar de olhos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Sanidade

The last man on Earth sat alone in a room. There was a knock on the door...
Knock - Frederic Brown

Ela estava sentada na cama, abraçando as próprias pernas, queixo colado nos joelhos. Estava assim há tanto tempo que já não sentia algumas partes do corpo. Imóvel, como um inseto perto da morte, ela encarava a parede oposta, onde havia um quadro com um barco a deriva no mar. De olhar perdido, como a embarcação, sua presença parecia tênue. De alguma forma, Alice se misturava com a mobília, tão sem importância e imóvel parecia. Estava calma. O coração batia lentamente. Respirava sem perceber, relaxada e tranquila.
Moveu-se. Ouviu uma batida na porta. Uma voz distante. Não se exaltou. Levantou-se lentamente, calculando os movimentos, caminhou até a porta e a abriu.
Silêncio.
Olhou ao redor. A casa estava suja. Pensou em limpá-la.
- Alice, venha aqui!
Ela desviou os olhos para a cozinha, de onde sua mãe a chamava. Respirou fundo e deu o primeiro passo pra fora do quarto. Lembrou que estava descalça ao pisar numa pedra especialmente pontiaguda. Ou seria uma peça de um brinquedo? Percebeu que não sabia direito, mas não se preocupou em olhar. Seguiu caminho pela escadaria até o saguão de entrada. Degrau após degrau. E só então…
- Alice, não vá! Não é sua mãe!
Era a voz de sua mãe novamente, porém vinda do andar que acabara de deixar.
Assustou-se, mas não o suficiente.
Olhou para trás, tentou enxergar sua mãe. Então olhou para a cozinha. Subir ou descer?
Então, Alice desceu. Mas não foi até a cozinha. Passou pelo saguão de entrada e abriu a porta da frente. Respirou o ar pútrido de 2018. O aroma de morte a trouxe de volta pra realidade.
Nenhuma das duas vozes pertencia à sua mãe. Eram apenas resquícios de memória trazidos eventualmente por seu cérebro em seus momentos mais sádicos. Sua mãe, a verdadeira, fora morta cinco anos antes. A realidade era ainda mais bizarra que suas alucinações. Portanto, a esquizofrenia que tanto a fez sofrer em tempos melhores, hoje torna o pesadelo da sobrevivência uma experiência um tanto menos atordoante. A própria mania de perseguição, a paranoia e os monstros que só existiam em sua cabeça a ajudaram a sobreviver e nunca se arriscar demais.
Não sabia exatamente que dia era. Então olhou para o céu, incrivelmente limpo e saudável. Fazia calor. Ela sorriu e decidiu que hoje era seu aniversário. Deu meia volta e entrou em sua esplendorosa festa, onde estavam todos os seus amigos, seus pais, seu irmão. E, pendurados numa corda, de ponta cabeça, seus inimigos.
Nenhuma dessas pessoas estava viva hoje. E, às vezes, a parte saudável do cérebro de Alice costumava dizer que nem mesmo ela estava. Era quando a garota tremia e temia pelo restante de sua sanidade.



Primeiro capítulo da personagem Alice do livro de zumbis : D