sábado, 27 de julho de 2013

La Douleur Exquise


H
á quem diga que o tempo cura feridas. Que não há melhor remédio que o tempo. Que o tempo é o senhor de tudo. Uma entidade passiva e ativa, que modifica, mata, destrói, cria, renova e melhora. Algo inventado pra que as coisas não aconteçam umas sobre as outras, mas organizadamente. E não há nada maior que o tempo. Não há nada que o supere. Pois estava aqui antes de qualquer um. Sempre houve o tempo. E sempre haverá tempo. Do início de tudo ao fim dos tempos e o que quer que vier após. O tempo, que dá oportunidades desiguais, que dá um pedaço de si a cada pequena coisa que existe, seja vivo ou não vivo. Um prazo de validade, um limite de existência, diferente para cada coisa. E tudo deve acontecer de acordo com a vontade do tempo. Quando o pedaço de existência se esgota, a vida se acaba, e não deve continuar, pois isso é roubar do tempo. E o tempo tem seus próprios meios de reaver o que lhe foi roubado.
O tempo que dá a vida também a tira.
O tempo não dá nem tira sem motivo. O tempo não cria nem destrói sem motivo. Cada ser vivo ou não vivo que teve sua existência no tempo é crucial. O tempo é só um escritor, e a criação é seu livro. As coisas não vivas, seu cenário. As coisas vivas, seus personagens. A diferença é que todos os personagens, um dia, morrem.
E em 8 de Outubro de 2012, 13,3 bilhões de anos após o início do Universo, 4,5 bilhões de anos depois da criação da Terra, 200 mil anos após o surgimento do ser humano anatomicamente moderno, 10 mil anos após a invenção da escrita, 2012 anos após o ano 0, 223 anos após o início da idade contemporânea, 15 anos, 4 meses e 2 dias anos após o dia mais feliz da vida de Megan Darwin, o tempo emprestado a Harry Darwin havia se esgotado.
O tempo é realmente relativo.
Para um homem que viveu cem anos, 3 minutos é relativamente pouco.
Para Harry Darwin, 3 minutos parece-lhe a eternidade. Pois esse foi o tempo que o garoto de 15 anos permaneceu debaixo d’água.
Harry era capaz de permanecer 2 minutos sem respirar, um pouco mais que a média. O corpo, no entanto, gasta muito mais oxigênio quando se move. E principalmente quando se debate. A adrenalina produzida em situações de risco nos torna aptos a fazer o necessário para fugir. Então quando Harry se viu a 2 metros da superfície do lago, preso a uma planta após um minuto submerso, a injeção de adrenalina em suas veias o fez se agitar de tal forma que com dois minutos, o sol de 4,5 bilhões de anos que lançava sua luz sobre o garoto de 15 anos, passou a ser um borrão brilhante, a medida que os raios que penetravam na água já não mais penetravam seus olhos. O cérebro foi lentamente apagando, os pulmões imploravam por oxigênio. A sensação de desespero foi se acalmando, a dor e os litros de água sendo engolidos foram se tornando passado. Sua mente se apagava rapidamente. Harry imaginava o que sua mãe pensaria. Talvez seu pai sequer chorasse. Mas sua mãe choraria. Quanto tempo demoraria para acharem seu corpo? Todos sabiam que ele gostava de treinar no lago quando a piscina estava fechada. Talvez não demorasse muito.
Tomara que me achem logo. Que meu corpo não fique muito deteriorado até lá. Tomara que minha mãe possa se despedir de mim. Que ela não sofra muito. Que ela não ache que foi culpa dela. Que ela saiba que eu a amo.
Eu gostaria de viver mais. Eu gostaria de ter feito muito mais. Eu gostaria de ter orgulhado meus pais.
Eu gostaria de ter uma segunda chance.
E este foi o último pensamento de Harry Darwin, antes que alguém saltasse ao seu lado. O vulto soltou a planta de seu tornozelo, mas o garoto de 15 anos não boiou. Seus pulmões estavam pesados de água. A consciência se foi e só voltou quando estava deitado sobre a grama, tossindo o que lhe pareceram litros e litros da água do lago.
Abriu os olhos por segundos. Só tempo suficiente de ver um jovem, aproximadamente a mesma idade que ele, segurando seu rosto firmemente. Estava encharcado. As gotas d’água escorriam de seu cabelo negro e encaracolado, misturando-se a um mar de lágrimas que pingavam de seus olhos sobre o corpo de Harry. Seus lábios tremiam. Não de frio, mas de desespero.
- Perdão – o garoto murmurou, e apertou Harry num abraço que o adolescente provavelmente só recebera igual no dia de seu nascimento.
E os olhos de Harry se fecharam sem ver que ainda havia uma terceira pessoa observando a cena.
A partir deste dia, Harry Darwin tornara-se um criminoso.
Segundo após segundo, minuto após minuto, dias, semanas, meses, anos. Cada momento de sua vida após o dia 8 de Outubro de 2012 era um crime contra o tempo.

Porque neste dia, por culpa de Harry Darwin, alguém morrera antes de seu tempo.





La Douleur Exquise - the exquisite pain of wanting someone that you know you can never have, and knowing that you will still try to be with them. 

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