segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Top música de fossa

Só porque eu estava ouvindo Don't Throw Away Our Love e reparei que é benzi fossa. Daí deu vontade de fazer essa lista.
Que fique claro que se eu estivesse numa fossa, não estaria fazendo listas.
Inteiramente gosto meu, obviamente não espero que ninguém concorde nem com a seleção nem com a ordem dela.
Beijos.
uashuashaush

Posição 10 - Creep - Radiohead

Trecho pra cantar chorando com um pote de sorvete no colo:

Eu quero que você perceba
Quando eu não estiver por perto
Você é tão especial
Eu queria ser especial
Mas eu sou um verme,
Sou um esquisitão
Que diabos estou fazendo aqui?
Eu não pertenço a este lugar

9 - Don't throw it all away (our love) - Bee Gees



Pra cantar enquanto se mata:


Você é a coisa viva que me mantém vivo
E amanhã se eu estiver aqui sem seu amor
Você sabe que não irei sobreviver
Apenas meu amor pode te levantar acima de tudo

Não jogue tudo isso fora, o nosso amor, nosso amor
Não jogue tudo isso fora, o nosso amor



8 - Wish you were here - Avril Lavigne



Trecho pra gritar a plenos pulmões enquanto chora (igual ela faz no vídeo, por sinal)


Droga, Droga, Droga
O que eu faria para ter você
Aqui, aqui, aqui
Eu gostaria que você estivesse aqui
Droga, Droga, Droga
O que eu faria para ter você por
Perto, perto, perto
Eu queria que você estivesse aqui

7 - Simple Together - Alanis Morissete
Pra chorar as pitangas, as mangas, as uvas, as acerolas:


Eu pensei que seríamos simples juntos
Eu pensei que seríamos felizes juntos
Pensei que seríamos sem limites juntos
Eu pensei que seríamos preciosos juntos
Mas eu estava tristemente enganada

6 - You were always on my mind - Elvis


Pra dedicar em post depressivo de indireta de facebook:


Talvez eu não te abracei
Todos aqueles solitários, solitários momentos
E eu acho que nunca te disse
Que sou muito feliz por você ser minha
Se eu fiz você se sentir a segunda melhor
Garota, eu sinto muito, eu estava cego

Você sempre esteve em meus pensamentos
Você sempre esteve em meus pensamentos

Diga-me, Diga-me que seu doce amor não morreu
Me dê, Me dê mais uma chance
De te manter satisfeita, satisfeita





5 - You Oughta Know - Alanis Morissete

Pra cantar com ódio do mundo:


Você parece muito bem
As coisas parecem em paz
Eu não estou tão bem assim
Achei que você deveria saber

Você se esqueceu de mim, Sr. Falsidade?
Detesto incomodá-lo durante o jantar
Mas foi um tapa na cara
O quão rápido fui substituída
E você fica pensando em mim enquanto transa com ela?



4 - Ne Me Quitte Pas - Versão da Maysa
Pra cantar enquanto nada no fundo do poço:

Eu vou te oferecer
Pérolas de chuva
Que vêm dos países
Onde não chove
Eu vou cavar a terra
Até a minha morte
Para cobrir teu corpo
De ouro e luzes
Eu farei uma terra
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás rainha

Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe


3 - Every breath you take - The police
Gritar, chorar, comer sorvete, chocolate e beber vodka coca cola ao mesmo tempo:


Oh, você não consegue ver?
Você pertence a mim
Como meu pobre coração dói,
com cada passo que você dá



2 - Don't you Remember - Adele


Adele é a rainha da fossa. Sem comentários.


Quando foi a última vez que você pensou em mim?
Ou você me apagou completamente da sua memória?
Muitas vezes penso sobre onde eu errei,
Quanto mais eu penso, menos eu sei.

Eu sei que tenho um coração inconstante e amargura
E o olhar errante, e um peso na minha cabeça.

Mas você não lembra?
Não lembra?
A razão que me amou antes,
Amor, por favor lembre de mim mais uma vez.



1 - Someone like you - Adele

Ouvir enquanto toma a cartela toda de Alprazolan (Se for pra cantar serão suas palavras finais)


Eu odeio aparecer do nada, sem ser convidada
Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar
Eu tinha esperança esperança de que você me olhasse e se lembrasse
De que pra mim, não acabou

domingo, 25 de dezembro de 2011

Ateu-vítima

Hoje virou moda ateu ser vitimizado.
Não são raras as imagens e as discussões que mostram um lado extremamente preconceituoso dos não-ateus. Que, antes de qualquer coisa, quero deixar claro que concordo que exista, não é esse o ponto.

O ponto é que os ateus que estão "reclamando", criando essas imagens, dizendo que, na mente do cristão, ser ateu é ser demoníaco, são "jovens" de não mais que 30 anos, com acesso à educação, boa criação, acesso à internet.
Os cristãos que efetivamente acham que ser ateu é coisa do demônio são mais velhos, de uma época em que era abertamente dito que não crer em Deus era errado. Isso, ou evangélicos cujos cérebros sofreram lavagem cerebral de pastores mais radicais, na maioria das vezes pessoas sem muito acesso à internet e de renda mais baixa, sem o menor conhecimento base para pensar no que está ouvindo.

Os cristãos no mesmo nível intelectual e financeiro dos tais ateus dificilmente farão qualquer tipo de ato preconceituoso perante os ateus. No entanto, essas imagens publicadas por ateus são sim, preconceituosas. É generalizar e chamar cristão de idiota. Desculpa, mas não sou idiota.

Em primeiro lugar, um cristão com um mínimo de escolaridade entende que ser ateu significa não acreditar em nada, e portanto não vai te achar satanista. A menos que ele realmente seja das antigas, tenha toda uma cultura de aversão aos ateus (o que não acontece na maioria dos casos) ou seja de igrejas evangélicas que preguem isso e ele não tenha discernimento de nada.
Outra coisa é toda essa fama de intelectual que tem o ateu.
Significa que ser ateu implica em ser mais inteligente? Perdoem-me os ateus, mas se ser ateu significasse inteligência, Eintein não teria sido ateu também?
Não sou ateia e acredito na teoria da evolução. Problem?

SIM CLARO PORQUE A PRIMEIRA E A SEGUNDA GUERRA FORAM PROVOCADAS POR DISPUTAS RELIOSAS.

Ateus costumam confundir, além de tudo, trabalho de Deus com trabalho dos homens.
Publicam imagens de soldados chorando por perder seus amigos em guerras supostamente religiosas, e esquecem que quem faz a guerra e quem puxa o gatilho é o homem e não Deus. Também costumam postar fotos de crianças famintas e dizer que se Deus existisse aquela criança não estaria com fome. Penso que, se você realmente se importasse, ela também não estaria com fome. Se o ser humano não gastasse a cada 8 dias em armamento o suficiente, por mês, para acabar com a fome do mundo todo (SIM, FATO), aquela criança não estaria com fome.

Fui batizada católica, mas odeio minha religião e todos os dogmas que ela impõe. Tenho vergonha de um líder religioso que protege pedófilos. Também não me sinto bem na igreja, não vou à missas e não acredito em 90% do que é pregado.
Sou, portanto, agnóstica. Acredito num Deus que já me deu provas suficientes de existência, mas não vou impôr minhas crenças nem sobre os católicos, nem sobre os evangélicos, muito menos sobre os ateus. E acredito que todos os cristãos que conheço sejam assim, tal qual meus amigos evangélicos extremistas. Aceito uma boa discussão religiosa, aceito que meus valores sejam contestados e sei que não sou exceção.

Então, ateístas, larguem mão de serem vítimas. Estão parecendo irmão do meio : )

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A nova geração

Entre quanto e quanto tempo temos uma nova geração?
Supostamente eu, de 19 anos, deveria me encaixar na mesma geração que o povo de 14 - 15 anos. E provavelmente os adultos devem mesmo colocar todos entre 14  e 22 anos na mesma geração. Exceto que hoje a diferença entre os jovens adultos e os adolescentes é tão gigantesca que, sem dúvida, são duas gerações diferentes - e MUITO diferentes.

Primeiro, os ídolos. Minha geração é muito apegada a ídolos, mas de uma forma bem diferente da nova geração.
Tínhamos os rockeiros cult, que adoravam Led Zeppelin, Mettalica, Queen, The Doors, etc. E os novos roqueiros, muitas vezes "discriminados", que gostavam de Linkin Park e Evanescence. Lá por 2005 surgiram os emos, que gostavam de Good Charlotte e cortar os pulsos. Em geral, todos eram meio revoltados. Querendo mudar alguma coisa, mesmo que sem nem tentar.
De ídolos pop, tínhamos Britney Spears em sua época de ouro. E por que não, Madonna. Gween Stefani (e dane-se como se escreve o nome dela), Black Eyed Peas (na época das músicas com mais de uma frase).

Um resumo disso? Música pra quem quer ouvir, não ver.
Claro que sempre tivemos ídolos que meninas caíam babando em cima, mas ninguém ouvia música por causa do cantor! Ninguém via o Chester e dizia "NOSSA QUE GATO, VOU OUVIR LINKIN PARK".

O que temos hoje: um bando de cantores solo (Justin Bieber, Demi Lovato, Miley Cyrus, e eu nem quero saber se algum desses nem cantor é, porque sequer conheço) que são bonitinhos mas obviamente não cantam merda nenhuma, e nem suas próprias músicas fazem.
Justin Bieber chegou onde está por talento? Ok, ótimo. Mas faz lá o garoto estudar música, ter uma posição ativista, fazer música que mude algo na vida das pessoas.
Um fato: fãs de Justin Bieber podem até gostar da música dele, mas não foi por isso que começaram a ouvi-lo.

E quanto ao rock?
Que rock?
O que é o rock atualmente senão o que sobreviveu à era "imagem é tudo"?
O que foi o Rock in Rio, senão um punhado de bandas que fizeram sucesso com a minha geração e outras coisas pop mais atuais?

E a representante oficial dessa geração? Lady Gaga, claro. Imagem é tudo. O que é Lady Gaga senão imagem? Ela seria tão famosa se não rolasse no lixo antes de subir no palco? E a Lady Gaga, pelo menos, eu defendo, porque sei que ela efetivamente faz suas músicas e elas TÊM conteúdo. Pelo menos a maioria das que conheço. Muito mais do que as da Britney Spears.

Um fato: minha geração viveu de rock em suas mais variadas formas, seja ela emo, ou o rock que os pais ouviam, ou gritar junto com o Chester Bennington.

A geração atual vive da imagem e da beleza de seus ídolos.

E algo que também me intriga é a displicência dessa geração com livros.
Não sei se é só a baixa quantidade de dados que tenho, mas ô geração pra ser enojada de livros!

Essa nova geração também tem uma ânsia pra crescer, e, sem querer, acaba ficando presa no tempo.
Tumblr de pessoal de 12 até 15 anos é que não me deixa mentir. Como assim tem menina terminando namoro aos 12 anos? Minha geração ainda assistia Cavaleiros do Zodíaco nessa idade. E claro que muita gente mais velha vai dizer que estou querendo me considerar adulta e mimimi. Mas é fato. Não existia isso. Existia até um querer, uma admiração, uma vontade de crescer, mas não ações. Meninas de 14 anos hoje estão postando frases como "Você é tudo pra mim" no tumblr. Por quê? O que é a vida pra você? Você tem 14 anos e sua vida é um outro garoto de 14 anos?
No fim, por essa vontade de crescer mais rápido, essa geração fica presa no tempo, eternamente jovem, eternamente adolescente. Tenho medo de imaginar quando ela vai amadurecer e ir pro mercado de trabalho, perceber que todas essas lamúrias de adolescente triste não passavam de cócegas perto das decisões que a vida vai te forçar a tomar.

A nova geração é a geração da imagem!
Viva Adele e a música para os ouvidos, e não para os olhos.



sábado, 17 de dezembro de 2011

It is known

In the beginning, the universe was created. This made a lot of people very angry, and has been widely regarded as a bad idea.
There is a theory which states that if ever anyone discovers exactly what the Universe is for and why it is here, it will instantly disappear and be replaced by something even more bizarre and inexplicable.
There is another theory which states that this has already happened.
It is known that there are an infinite number of worlds, simply because there is an infinite amount of space for them to be in.However, not every one of them is inhabited. Therefore, there must be a finite number of inhabited worlds. Any finite number divided by infinity is as near to nothing as makes no odds, so the average population of all the planets in the Universe can be said to be zero.From this it follows that the population of the whole Universe is also zero, and that any people you may meet from time to time are merely the products of a deranged imagination.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ahmnat - Os amores da morte

Ok, eu perdi meus fones de ouvido que tanto amava, que me custaram cerca de 20% do meu salário.
O que fazer no ônibus enquanto isso? Impossível evitar entrar na livraria da rodoviária.
Havia um total de três livros, um ao lado do outro, escritos "pela morte". O primeiro, A Menina que Roubava Livros, que já li. O segundo "Um trabalho Sujo", que ainda não li, e "Ahmnat - Os amores da morte". Como estou agora pagando pelos meus livros, fiquei um bom tempo analisando as opções, mas inegavelmente Ahmnat me chamou atenção. Li o resumo, li a primeira página, analisei preços e então, só então, fui ler sobre o autor, só por curiosidade. E isso me fez comprar o livro. Uma simples frase. "Começou a escrever poesias ainda no ensino fundamental e criava histórias inspiradas nos colegas de escola". O que posso dizer? Identifiquei-me imediatamente. Foi amor à primeira vista.

Enfim, comecei a ler, e sou extremamente crítica, principalmente com a nova literatura. Fico procurando defeitos, procurando pelo em ovo, julgando a personagem. Uma menina sofrida que se torna a Morte. "Provavelmente vai ficar de enrolação pra não querer matar ninguém, ficar com pena das criancinhas e das pessoas sofridas como ela". Ledo engano. Logo após virar Morte, só pra descarregar a raiva, mata milhares de pessoas que nada tinham a ver com seu sofrimento em vida, incluindo mulheres e crianças. E passa seus milênios matando e destruindo, fazendo seu trabalho com maestria, por vezes revolta, outras caindo nas armadilhas do Destino, com quem tem uma aposta - que, aliás, julguei saber prever o fim.
Ahmnat é uma personagem perfeita. Quer dizer, pelo menos é o tipo de personagem que eu amo, que eu sempre escrevo. Personagens como a Ahmnat estão presentes nas minhas histórias desde que comecei a escrevê-las. A escrita e a forma como os fatos decorrem, tudo muito bem feito, e me senti lendo algo que, se tivesse capacidade, eu poderia ter feito. Porque é tudo que eu gosto, que eu faria, que eu me identifico.
Nas últimas páginas, quando as coisas começam a ser explicadas, não pude evitar. "Eu já sabia que isso ia acontecer." e previ o fim. Exceto que... eu estava errada! O ponto em que eu achei saber prever não era o fim. O fim propriamente dito me surpreendeu e me agradou enormemente. Morte, uma enorme confusão de sentimentos, em sua melhor definição.
E o epílogo? O que é aquele epílogo?

Devo dizer que raríssimas vezes tenho uma surpresa tão agradável com a nova literatura, com novos escritores. Por exemplo, tentei ler "A mão esquerda de Deus" e descobri uma leitura cansativa e sem grandes emoções. Não continuarei a ler a saga. Mas pode apostar que vou ler "A mãe de todos os pecados". E o principal motivo é: me identifiquei MUITO com Julien De Lucca.
Aliás, dando uma passada em seu twitter (@Jdelucca), descobri que o cara é um gamer viciado. Caramba, realmente, sou fã desse cara. Aplausos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Simple Math - De onde tudo veio

http://youtu.be/PaMiVDZu_T4

Olhos de caçador
Eu estou perdido e dificilmente notado, rápido adeus
Quero rasgar seus lábios na minha boca
E mesmo no meu melhor momento de duvida
A linha entre o engano e o agora

Matemática simples
É como se os nossos corpos ainda estivessem aqui
Matemática pecaminosa
O fluxo e refluxo se multiplicam

E se eu estivesse errado e ninguém liga de mencionar?
E se fosse verdade, e tudo o que achavamos que era certo estava errado?
Matemática simples
A verdade não pode ser fracionada
De qualquer forma

Eu concluo
Para atenuar a culpa, poderiamos alinhar
Um álibi perfeitamente construído
Para acalmar a violenta culpa que come e nunca morre
Na culpa real, eles me chamaram uma vez, a escuridão dividiu

Matemática simples
É por isso que nossos corpos ainda estavam deitados aqui
Matemática pecaminosa
A verdade não pode ser modelada

E se você estivesse louco, então você teria escutado?
E se nos estivemos tentando chegar onde sempre estivemos?
E se eu estiver errado, e começei tentar corrigir?
E se você acreditar em mim? Tudo é brilhante

E se eu estive tentando chegar aonde eu sempre estive?
E se nos estivessemos tentando chegar aonde sempre estivemos?
Matemática simples
Acredite em mim, tudo é brilhante
E se nós estivéssemos tentado matar o ruído e o silêncio?
E se eu estiver errado e você nunca questionou?
E se for verdade, que todos nós pensamos estar certo estava errado?
Matemática simples
A verdade não pode ser fracionada
Eu questiono, eu então terei que recupera-la.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Simple Math - II

É claro que Sophia estava lá.
Os motivos eram muitos. Gostava da matéria, gostava da forma com que Richard levava tudo isso a sério, admirava as respostas irônicas que o professor lançava aos alunos e tinha uma enorme vontade de conversar com ele. Simplesmente conversar. Passar horas discutindo sobre tudo.
Sophia era como uma irmã mais velha, do tipo que dá orgulho, do tipo que você quer ser quando crescer, ainda que tenham a mesma idade. Lembro que já sabia o que queria da vida numa época que as meninas ainda querem ser professoras ou bailarinas. E eu sentia que ela podia ser exatamente tudo o que quisesse. E talvez por tudo isso ela admirasse tanto Richard, de uma forma tão diferente das outras meninas da nossa idade. Eles conversavam sobre a vida, sobre política, sobre a bolsa de valores se fosse conveniente. Tinha a impressão de que a beleza tão farta que cansava a vista de quem olhava para Richard simplesmente não adentravam nos olhos de Sophia.

- É uma questão de educação. – dizia Richard, com um sorriso que instigava – As pessoas tratam bem aquele que não gostam pra parecerem mais educadas, quando por dentro estão matando o outro de formas cruéis. Eu prefiro chamar a educação de hipocrisia. Acho que estou velho demais pra me importar.
Richard continuou sorrindo, e na maioria das vezes o fazia. Ainda que fosse um homem bastante sério, predominava a ironia em seu comportamento. Gostou de observar as reações dos cinco que estavam na mesa redonda de filosofia. Já não mais discutiam assuntos muito tensos. Agora apenas relaxavam e esperavam o horário de sair.
- É uma tendência normal do ser humano proteger quem ama e ignorar quem odeia. – disse Sophia, concordando.
- E o pior é que falando assim parece tudo muito simples. – disse Phelipo, um dos garotos da turma de Sophia. Ele arrumou os óculos de aros grossos sobre o nariz e então continuou – Na maioria das vezes, com as pessoas que realmente importam, as que incomodam, não se sabe se amamos ou odiamos.
A frase de Phelipo ainda ecoa na cabeça de Richard, não há sombra de dúvidas disso. Mas naquele momento, ele simplesmente riu.
- Acho que está exagerando, Phelipo. Nada precisa ser tão complicado. A vida, como já dissemos aqui, é simples. – disse Richard.
Richard viu o garoto esboçar uma palavra, mas não disse nada. Conteve-se no último momento, e o professor entendeu que era porque estava prestes a discordar. Os alunos tinham certo medo em ir contra sua palavra. Não sabia se porque consideravam que estava sempre certo ou por medo de uma resposta seca ou irônica demais.
- Pode falar, Phelipo.
- Acho que o que ele quer dizer – começou Sophia, atraindo a atenção, quando Phelipo simplesmente deu de ombros – é que qualquer um que diga isso não viveu o suficiente.
Todos tinham medo de contrariá-lo, exceto Sophia.
- Acho que tenho pelo menos o dobro da sua idade. – ele respondeu, quase ofensivo.
- E é isso que mais impressiona. Talvez seja pela sua facilidade em separar os alunos em bons ou ruins – coisa que ninguém discordava, nem ele -, mas pelo menos eu, como opinião pessoal, rotulo menos e observo mais, e há traços nas pessoas que desgosto e que gosto.
- É uma visão bastante aberta, concordo. – disse Richard – Mas não há como simplesmente amar e odiar alguém.
- Eu amo suas aulas de Filosofia. Odiava suas aulas de Matemática. – disse John, um garoto sentado mais ao fundo.
John era a prova viva da inteligência de Richard, pois havia tido aula com ele em outro colégio, de Matemática. Richard havia se formado e exercido em duas áreas completamente diferentes, com a mesma qualidade de aprendizado e interesse. Lia mais que os professores de português. Participava mais de fóruns de Matemática que os professores da matéria.
- Estourou o motim da mesa redonda. – disse Richard, abrindo os braços. Então riu, satisfeito com seus alunos.
E assim, o último sinal do dia tocou. Ele esperou o barulho da sirene passar para agradecer a presença de todos e se despedir. Sophia, no entanto, ficou, sem nem fazer menção de sair. Richard não se impressionou.
- Estou realmente feliz com o rumo que esse grupo está tomando. – disse Richard, quando os demais já haviam saído e ele estava acabando de guardar seu material de professor – Estão começando a contestar.
- Vai dizer que disse aquilo só pra nos testar. – desafiou Sophia.
- Não, eu realmente acredito que é muito simples decidir se amo ou odeio alguém. Claro que há muitos sentimentos no meio do caminho, mas os extremos são opostos demais para se misturarem.
Sophia deu de ombros.
- Se você diz.
- Ora, não comece a concordar comigo. – ele mandou, sorrindo. Tinha um sorriso absurdamente bonito – Você é diferente justamente por contestar.
- Ah, claro. – ela riu, levantando-se com a mochila nas costas – E você é diferente justamente por ser o maior cabeça dura que esse mundo já viu.
- Você deve contestar, eu também.
- Não concordo com uma palavra do que está dizendo…
- Mas defenderei até a morte seu direito de dizer o que pensa. – completou Richard, bastante satisfeito.
- Voltaire. – ela terminou. – Seu antepassado, muito provavelmente.
Richard riu e também carregou sua bolsa com seu notebook. Os dois saíram da sala, certos de que viam um amigo um no outro.

Richard achava Sophia além da sua idade. De corpo, nada mais que uma menina de dezessete anos, com seus cabelos negros, lisos na raiz, formando ondas grandes do meio para o fim. Olhos tão verdes quanto era possível e o rosto pálido o suficiente pra que ganhasse o apelido de fantasminha camarada no primeiro ano. Havia tido alguns namorados, pelo que ele se lembrava, e sabia que – ou pelo menos percebera –John era completamente apaixonado por ela. Era uma garota cheia de vida, inteligente, que ele admirava, com quem ele gostava de conversar.
Talvez – e ele já tinha pensado nisso várias vezes – ela fosse uma mulher presa num corpo de menina. Sua aluna favorita. Sem sombra de dúvidas.

Talvez Richard a levasse tão a sério que disso derivou uma confiança grande demais.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Epitáfio

Devia ter estudado mais
Ter revisado mais
Ter feito o meu dever
Devia ter chutado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...



Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
De não ficar de recuperação...
O cotuca vai me acolher
Enquanto eu lembrar dos amigos
O cotuca vai me acolher
Enquanto eu lembrar...
Devia ter me preocupado menos
Surtado menos
Não estudar até o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com matérias pequenas
Me focado no que trás mais dor...
Queria ter aceitado
Ope Uni como ela é
A cada um cabe aprovações
E a DP que vier...
O cotuca vai me acolher
Enquanto eu manter os amigos
O cotuca vai me acolher
Enquanto eu lembrar...
Devia ter brigado menos
Implicado menos
Mas agora já passou....

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar

Que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba?




Faz um ano já que o pra sempre acabou. E só agora que eu percebi.
Uma verdade inconveniente é que de todas as escolas que já saí, o que mais ficou, o que mais guardei, foram os professores que tive. Todos eles me mudaram um pouco. Alguns muito. E sempre que deixei de agradecer, me arrependi. Gostaria de ter coragem e ir lá e dizer obrigada a todos que me marcaram.
Professor é, com certeza, a profissão que mais admiro. Sempre admirei, sempre fui muito ligada aos meus professores. Acho que qualquer um que me ensine algo que eu leve pelo resto da vida já é alguém que admiro muito.
No cotuca, porém, tive amigos que me ensinaram o significado de bons momentos. Alguns talvez eu perca o contato, talvez se afastem para sempre, talvez nunca mais ouça falar deles, mas ainda assim me lembrarei.
E me lembrarei também da sala que foi minha durante um ano. TA 09 não é TA 08, mas agradeço pelas risadas, pela amizade, pelo companheirismo de quem nem me conhecia direito.

Impossível porém, não lembrar do significado de TA 08.
De início, uma sala que se irritou quando a diretora a classificou como "heterogênea". Afinal, nos sentíamos unidos! Uma sala orgulhosa de não ter intrigas, de serem amigos, de clamarem ao sete ventos que são uma família.
Só que a família achou suas divergências conforme a intimidade aumentou.
É com bastante arrependimento que digo que mal ouvi a voz de algumas pessoas da sala, de tão pouco que conversei nesses três anos. E com outros, talvez tenha falado mais do que com a minha mãe. Mas talvez isso faça parte da coisa, certo?
O que não fazia parte da coisa era a desunião, da qual muitas vezes participei. Odiei, xinguei, fiquei brava em muitas ocasiões. Ri quando reparei na divisão drástica que havia na sala, estilo apartheid. E no fim, a sala que brigou por ser classificada como heterogênea, acabou virando uma enorme mistura de muitas fases imiscíveis.
Tivemos a primeira, a segunda guerra mundial, e até a guerra fria. Tivemos momentos históricos demais. E eu gostaria que você, que está lendo isso e pretende não contar pra ninguém que entrou no meu blog, que se lembre, que olhe pra trás, que pare pra pensar em como tudo começou e como nós éramos as mesmas pessoas do começo ao fim, só que acabamos com mais raiva, mais ressentimentos, mais mal entendidos. E você que está pensando "que hipocrisia dessa menina que xingava todo mundo falar essas coisas", que saiba que não pretendo me defender ao dizer que a pessoa que você mais sabe que fala de você (e me refiro a ter certeza e não achismo) é a que menos fala e mais ouve. E também, olhe agora. De que tudo isso importa?

Não importa mais nada. Não importa o começo ou o fim. Só o que ficou.
E o que ficou?
As brigas e os ressentimentos. Os amigos verdadeiros. Os bons momentos. A ideia de ter vivido a experiência COTUCA, tenha sido ela traumatizante ou memorável.
Já faz um ano pra você, mas só faz alguns dias pra mim. E na verdade, nem acabou. Se não rolar faculdade, rola matematica 3.

Ao cotuca, obrigada por me acolher. Ainda que tenha me feito sofrer, tenha me feito chorar, ter crises de pânico e a necessidade de ansiolíticos, obrigada. Daqui pra frente eu me viro.

E Força sempre!

Simple Math

A história toda ainda parece só um grande ponto de interrogação.
Entre filósofos e pensadores, entre alunos e professores, restam apenas humanos, cujas vivências determinaram aquilo no que a vida se baseia: o que é importante para cada um. Se é a Filosofia, se é a carreira, se é a família ou números e cálculos frios.
E por isso essa história ainda me parece um enorme ponto de interrogação. Porque as vivências e tudo que havia guiado Richard até aquele momento contradizem suas reações aos fatos decorridos.
Pra que tudo possa fazer um mínimo de sentido, devo começar dizendo que Richard foi meu professor de Filosofia durante o Ensino Médio. E pra quem ensina uma matéria tão rejeitada pela maioria, até que era levado bem a sério.
Sophia, aconteceu de ser minha amiga, por acasos do destino que já de nada valeria mencionar. Os relatos aqui são feitos por quem acha que a história dos dois não merece passar em branco como se nunca tivesse acontecido. Muitas coisas (e diria a maioria) estão descritas como imagino que aconteceram, pois não as presenciei, e Sophia recusou-se a dar detalhes. Os nomes, obviamente, não são reais.
O ponto de vista inicial é de Richard. E o motivo é simples. Sophia nunca escondeu seus sentimentos. Mas Richard foi e é um mar enorme de confusão, tormenta e dúvidas. Então prefiro tentar explicar aquele que nunca se fez entender. E os sentimentos dele? Estou adivinhando. Tudo aqui é palpite meu. Richard, por fora, nunca demonstrou mais do que ironia e frieza. Por dentro, no entanto, gosto de pensar que era fraco.
Preferi me ocultar dessa história, portanto não me verão como personagem. E antes de qualquer coisa, quero que sintam-se avisados: a realidade é tão amarga quanto pode ser.
Na nossa escola havia um clube de filosofia fundado e regido por Richard. No começo, cheio de ideias utópicas na cabeça, ele espalhava cartazes convidando os alunos a discussões capazes de trançar a mente de qualquer um. Depois de três semanas tendo apenas cinco alunos na mesa redonda, ele começou a economizar o dinheiro do xerox dos cartazes, já que os que ali estavam não precisavam de convites pra aparecer.
Era de se esperar, no entanto, que Richard tivesse muito mais adeptos ao clube de filosofia, já que nove em cada dez meninas não dispensavam uma desculpa pra ficar perto dele. Seria isso que teria acontecido – garotas do colégio todo ao seu redor e ignorando suas discussões – se ele não tivesse avisado que seriam avaliados pelas conclusões de cada reunião.
É claro que Sophia estava lá.

sábado, 12 de novembro de 2011

Poesias de não sentimento

Parei de escrever poesia aos 14 anos (mais ou menos quando o romantismo de mudar o mundo acabou)

Pelo menos sobre sentimentos que EU tivesse.
Atualmente prefiro falar dos sentimentos dos personagens sobre os quais escrevo, já que escrevo compulsivamente.
É quase um pseudônimo, eu acho.
Isso é de um personagem de nome Richard. A história se chama Simple Math.

Sofia

Sofia não canta
Sofia só fala
E pouco fala
Mas encanta
Adoça minh'alma
Quando fala
Mas pouco fala

Sofia não chora
Sofia só sofre
E pouco sofre
Embora não chore
Minh'alma amarga
Quando sofre

Sofia não ri
Sofia só sorri
Mas mesmo por isso
Faz minh'alma rir
De imaginar seu riso

Sofia! Sofia!
Mas Sofia não ouvia
Sofia só sofria
Sofria de amar

Sofia se soubesse
Como minh'alma aquece
Só de te olhar

Sofia riria e cantaria
E choraria só de alegria

Sofia de minh'alma

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

E consertar o mundo fazia parte dos planos

Até eu descobrir que antes de mudar o mundo, preciso consertar a mim mesma, e isso já é difícil pra caramba.
Além do quê, o mundo é uma bagunça muito maior do que eu imaginava quando mudá-lo ainda era meu intento.
Perder o romantismo tão cedo é realmente triste.

Círculo do lixo ao luxo

As pessoas caminham nas ruas, sem notar o outdoor, a propaganda luminosa que os afeta. Não é um produto daquela cidade, daquele estado, muito menos daquele país. Nem precisamente de algum outro. Pode ter vindo da China ou dos Estados Unidos. Pode ter vindo de ambos.
Um executivo bem sucedido, passa pelo local sem perceber, pois está ocupado demais ao telefone, falando com alguém do Canadá. Porém, senta-se à mesa de um pequeno pub e pede o refrigerante anunciado em letras gritantes no outdoor.
A mulher que o atendeu foi contratada ontem, para substituir uma senhora que trabalhava ali há alguns anos. A jovem usa um tênis caro, que seu dinheiro não poderia comprar sem antes abrir mão de certas coisas. Tem tecnologia de ponta, o melhor desta semana.
            A loja onde o sapato foi comprado tem nome em inglês. É moderna para atrair jovens consumidores. Considerada comércio de luxo, nenhum dos empregados pode comprar grande parte dos produtos que vendem. Trabalham as oito horas diárias, não para comprar um tênis, mas para dar de comer aos filhos. Filhos, que não sabem traduzir para a língua nacional, o nome da loja onde seu pai ou sua mãe trabalha.
            O jovem que pode comprar esses tênis é filho do executivo. Não precisa pedir muito para que o pai mande comprar qualquer sapato ou roupa que o adolescente queira. Antes de ir à escola no dia seguinte, ainda comunica ao amigo dos Estados Unidos, em inglês, através do MSN sobre seu novo e avançado calçado, que é igual ao do amigo, porém com uma cor diferente. Podem comprovar essa diferença instantaneamente pela web can. O jovem acha ridículo o carnaval e nunca ouviu Bossa Nova. Também não faz a mínima idéia do que significa MPB. Mantém o Ipod ligado o dia todo, ouvido rock americano. Assim como um jovem de classe média o faz no computador, porém, sem entender uma única palavra.
            Um garoto dos EEUU que ouve o mesmo rock dos adolescentes do Brasil mora próximo à cidade onde o tênis caro foi projetado por centenas de pesquisadores. Mas no local apenas o projeto é feito, pois o produto mesmo é produzido em algum outro país sem nome, longe das capitais mundiais. Em qualquer lugar onde 90% da população não possa comprar o mais barato dos produtos com o salário que ganha produzindo-os.
            O dono desta empresa mora em Miami desde a última grande alta. Um des seus sócios do Brasil acaba de fechar negócio com uma fábrica em crescimento contínuo na França que produz perfumes caros com matéria prima oriunda do próprio Brasil, onde bóias frias são demitidos e substituídos por máquinas com os dizeresMade in Taiwan” para colher soja. Esta será exportada em toneladas para qualquer outro país, como o Japão. Que provavelmente criará algum produto com esta soja e o venderá de volta ao Brasil por um preço que os operadores das máquinas que colheram a soja não podem pagar. Os trabalhadores embalaram o produto passam fome em algum outro lugar do mundo que grande parte da população não conhece. Não podem sequer comer o lanche que os adolescentes de hoje comem ao ir ao Shopping, acompanhando o produto que nomeou esta geração. O mesmo produto que foi anunciado alguns metros dali num outdoor. Da mesma empresa que o executivo que comprou o perfume caro para sua mulher, comprou ações. Onde todos usam ternos caríssimos, produzidos por máquinas que colocaram na rua, milhares de pessoas, que não podem compra uma dezena de coisas. E assim, um círculo contínuo, um emaranhado de relações, onde nem todas elas estão realmente à mostra.
            A Globalização é boa para os beneficiados, uma pequena parte da população mundial. Porém, essa parte limpa e que nos trás orgulho de ter um produto importado é a única que os mais nos permitimos ver. O capitalismo e o sentido de nação simplesmente nos parecem idéias simples e inquestionáveis. Aos que não são beneficiados, há uma distância tão grande que simplesmente não são capazes de enxergar tão longe e ver de onde vem a falta de comida e o trabalho escravo pelo qual passam. Os únicos que podem ver isso tudo e os efeitos da Globalização são aqueles que a produzem e sem o mínimo interesse de perder este poder.
            É fácil e confortável se deixar cegar e ser guiado por outro alguém. Mas não se percebe esse alguém que segura uma das suas mãos usando a outra para tampar-lhe os olhos.


Texto feito pra uma aula de História da sétima ou oitava série, em 2005 ou 2006, quando mudar o mundo fazia parte dos planos.
- Analu